quarta-feira, 28 de março de 2012

Happy Hour #5 / Social / Joana Cunha Leal e Alexandre Melo / 28 de Março / Ateliê nº23 (Nuno Cera)


Na concepção deste ciclo de conversas, que visa analisar e pensar sobre um determinado colectivo e as relações entre as pessoas desse colectivo, sentimos necessário, incluir um momento de reflexão sobre a dimensão Social da arte.

Quais são as implicações do entendimento da arte como facto social? De que forma é que o social enforma o modo como produzimos e recebemos o objecto artístico? A História da Arte pode ser social? Tem relevância social? Finalmente, de que forma é que o social enforma o modo como produzimos e recebemos o objecto artístico?

Diz-nos  H.R. Jauss, em A Literatura como forma de provocação:

“No triângulo formado pelo autor, a obra e o público, este último não é de forma alguma um elemento passivo, que apenas reagiria em cadeia, mas antes uma fonte de energia que contribui para fazer a própria história. A vida da obra na história não é pensável sem a participação activa daqueles a quem se dirige.” (pp. 56-57)
A arte não é apenas um prazer estético (?) mas também uma produção social em estreita relação com o seu ambiente político, económico, religioso, científico... E, nesse sentido, a História de Arte não se limita apenas, às obras e sua atribuição mas, e sobretudo, ao confronto da obra com o seu tempo e contexto de produção.

Finalmente, na nota à 3ª edição do livro "O que é a Arte?", Alexandre Melo sublinha a importância de reconhecermos a necessidade de colocar a reflexão sobre a arte no "quadro mais geral da vida social, considerada no seu conjunto e na historicidade do seu devir. Dir-se-ia que, quando se fala de arte, a filosofia tem cada vez mais dificuldade em evitar o apelo à sociologia", questionando, mais à frente, "qual é o lugar da arte no conjunto da vida social? Quais são os agentes e as relações que dão conteúdo ao mundo da arte? Quais os mecanismos que regulam a produção, a circulação e a recepção das obras da arte?"

Parece-nos que estas questões espelham o que ensaiamos fazer nestas conversas, nestas Horas Felizes: Procurar o lugar da arte na comunidade. Procurar integrar socialmente os conteúdos da arte. Ir ao encontro dos agentes que produzem esses mesmos conteúdos. Como é que podemos pensar "em sociedade" a Arte? Como integramos a Arte no Social e vice-versa? Hoje o método proposto para análise destas e outras questões será por via das intervenções da Historiadora de Arte, Joana Cunha Leal e do curador, crítico e professor de Sociologia da Arte, Alexandre Melo.

Alexandre Melo Licenciado em Economia, Doutorado em Sociologia. Professor Auxiliar do ISCTE, tem leccionado Sociologia da Arte e da Cultura e Arte e Cultura Contemporânea. Desde o início da década de 1980 que escreve para jornais (JL, Expresso, El País) e revistas internacionais de arte contemporânea (Flash Art, Artforum, Parkett). Organiza exposições (“10 Contemporâneos”, Serralves, “Eduardo Batarda”, Gulbenkian, “Julião Sarmento”, Bienal de Veneza, 1997, entre muitas outras), participa em colóquios e conferências e escreve para catálogos e antologias, em Portugal e no estrangeiro. Tem vários livros publicados, entre os quais, Velocidades Contemporâneas, Julião Sarmento, As Artes Plásticas em Portugal dos Anos 70 aos Nossos Dias, Arte e Mercado em Portugal, O que é Arte, O que é Globalização Cultural, Aventuras no Mundo da Arte, Arte e Artistas em Portugal. Entre outras actividades, tem desenvolvido, ao longo do seu percurso, a actividade de cronista regular do Expresso, Arte Ibérica e Revista Livros, escreveu para a L+arte e foi director da revista cultural Belém. Foi responsável pelo programa “Ver Artes”, na RTP2, e foi colaborador da SIC para as artes plásticas. Assinou o programa de rádio “Os Dias da Arte”, na Antena 2. Curador das colecções do Banco Privado (me depósito no Museu de Serralves) e Ellipse Founddation.

Joana Cunha Leal (PhD 2006) é professora auxiliar do Departamento de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa (UNL-FCSH). É investigadora integrada do Instituto de História da Arte (IHA) da mesma Universidade e responsável pela sua linha de investigação teoria da arte e práticas disciplinares em história da arte. É igualmente responsável pelo doutoramento em teoria da arte e assegura, ao nível da licenciatura como de pós-graduação, cadeiras de teoria da arte, teoria e metodologia da história da arte, história da arte do século XIX e estudos urbanos (neste último caso também como professora convidada da Universitat de Barcelona, Spain). Trabalha, desde 2010, pintura modernista do início do século XX, tendo o seu projecto de investigação “Other Modernisms? The case of Amadeo Souza Cardoso” recebido uma bolsa Fulbright. Foi também bolseira do Stone Summer Theory Institute em 2010 e 2011 e co-edita actualmente o número da Revista de História da Arte – práticas da teoria. É autora de vários artigos e co-editou os volumes Arte & Paisagem e Arte & Poder, publicados em 2006 e 2008.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Happy Hour #4 / Linguagem / Nuno Crespo e Diogo Seixas Lopes / 29 de Fevereiro / Ateliê nº 49 (Bruno Cidra)


Maman, qu'est que ce la langage?
- La langage c'est la maison où l'homme habite.

Este breve diálogo, que diríamos muito Heideggeriano, retirado do filme 2 ou 3 choses que je sais d'elle (1966), de Jean-Luc Godard, serve-nos como motivação para arrancarmos com esta 4ª sessão do ciclo de conversas Happy Hour.  Neste filme, Godard considera que a linguagem de cada um é o seu mundo, e que o limite da linguagem de cada um é também o limite do mundo de cada um.

Para esta conversa, dedicada ao extenso tema da Linguagem, queremos, através dos contributos dos nossos dois convidados, Diogo Seixas Lopes e Nuno Crespo, e do público presente, espoletar algumas das questões que permanecem pertinentes em torno deste tema tão antigo e omnipresente na constante discussão e forma de abordar a arte.

Assim, entre muitos outros tópicos, pensar sobre arte e linguagem implica refletir sobre as linguagens da arte, a linguagem como forma artística, linguagem e criação, a forma da linguagem, a pluralização das linguagens, os jogos de linguagem, a experiência da linguagem, a linguagem e o pensamento, as imagens e a linguagem, o juízo da linguagem...

Estamos conscientes que particularizar, contextualizar e materializar a Linguagem numa hora é um desafio demasiado ambicioso. Ficaremos felizes se conseguirmos abrir, ainda, mais este tema, com novas questões.

Convidámos Diogo Seixas Lopes, arquitecto e professor universitário, investigador, autor e curador. E Nuno Crespo, professor universitário, investigador, crítico de arte e curador cuja atividade de investigação dedica-se ao cruzamento entre filosofia, arte e arquitetura. “Wittgenstein e a Estética”, recentemente publicada pela Assírio & Alvim, é uma versão da sua tese de doutoramento.

Ou seja, interessou-nos trazer os testemunhos de alguém que pensa sobre o que é a linguagem (para além de, também, a utilizar como expressão crítica, interpretativa ou de ensaio), e alguém, que usa a linguagem como forma de expressão, no sentido que a arquitetura é um diálogo com a cidade, com o quotidiano, com o nosso habitar – a arquitectura é expressão de pensamento, ou seja, de linguagem.

Nuno Crespo, pareceu adivinhar-nos, nesta procura de um lugar, ou dos lugares, para a Linguagem, quando nos enviou a questão que se propunha vir aqui desenvolver,
uma pergunta à qual não consigo responder: porque é que quando se pensa em arte se acaba sempre a pensar em linguagem?”

Nuno Crespo

Lisboa, 1975. É professor universitário, investigador e crítico de arte. Assinou a curadoria de diversas exposições de arte contemporânea e arquitectura e é autor de ensaios sobre arte e arquitectura. A sua actividade de investigação dedica-se ao cruzamento entre filosofia, arte e arquitectura.  Wittgenstein e a Estética é a sua mais recente obra, publicada pela editora Assírio & Alvim.

Diogo Seixas Lopes

Lisboa, 1972. Arquitecto pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa (1996). Professor Auxiliar Convidado no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Doutorando no Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Zurique. Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e Tecnologia e Centro Canadiano de Arquitectura. Foi um dos directores e editores da revistaPrototypo (1999–2004). Autor, com Nuno Cera, do livro Cimêncio (2003). Comissário das exposições Aires Mateus: Arquitectura, (2005) e Fronteiras: O Caso Novartis (2010). Trabalha como arquitecto em Lisboa, em parceria com Patrícia Barbas.