quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Happy Hour #1 / Ateliê / Liliana Coutinho e Vera Mantero / 23 de Novembro / Ateliê nº 15 (Inês Botelho/Mafalda Santos/Susana Gaudêncio)


Porque as conversas deste ciclo acontecem sempre nos ateliês de artistas, cedo nos apercebemos que a primeira conversa do Happy Hour, o motor de arranque deste ciclo, deveria ser dedicada, precisamente, a uma reflexão sobre o Ateliê.
Estas conversas poderão representar uma espécie de interrupção na essência deste local. Espaço em que os criadores se encontram em permanente saída e em constante retorno.
O ateliê é suporte, assunto, estrutura, condição ou contradição?
Reconhecemos, ainda, que o ateliê enquanto campo de trabalho encontra-se hoje em profunda mutação. E há quem o recuse. Vera Mantero, uma das nossas convidadas de hoje, dizia, numa troca de emails,
“eu não "pratico" o Ateliê como uma artista plástica certamente o fará e mesmo que se tentasse transpor a ideia para o Estúdio, o estúdio de dança enquanto Ateliê para um coreógrafo ou bailarino, a verdade é que eu também não "pratico" o estúdio, é um lugar onde só vou trabalhar mesmo quando tenho ensaios marcados e coisas afins programadas, de resto trabalho em casa, ...”
 Da perspectiva de Liliana Coutinho, como referiu num artigo publicado na Pangloss,

 “visitar um ateliê é criar um espaço de conversa”. 

.....

“O que pode ser um ateliê? Não há uma resposta. (...) O ateliê emerge da prática de cada artista. É no diálogo com a prática que a resposta a esta pergunta vai emergindo.  (...) Interessa pensar que formas é que existem de fazer com que o mundo entre no ateliê?  (...) Esse mundo do qual emerge a obra, com o qual ela está em constante relação. Como é que o mundo entra em contacto com o próprio processo artístico.” (excerto da intervenção de Liliana Coutinho)
Não é verdade que eu não uso o estúdio.  (...) A maior parte do tempo eu não estou lá.  Eu não sei se posso não estar lá tanto tempo porque já lá estive muito tempo.  (...) Seria maravilhoso ter um espaço onde eu posso ir não fazer nada. (...) Também há a tentação de nunca ir para lá e de entender tudo antes. Há uma série de coisas que só são resolvíveis e entendíveis ao ir ‘lá para dentro’. (...) Aquilo parece um forno.” (excerto da intervenção de Vera Mantero)

Liliana Coutinho
Nasceu em Lisboa em 1977, vive e trabalha entre Lisboa e Paris. Licenciada em Escultura pela Universidade do Porto, é mestre em Estudos Curatoriais, pela Universidade de Lisboa e termina tese de doutoramento na UFR04-École Doctorale d’Arts Plastiques, Cinema et Sciences de L’Art, da Université de Paris 1 – Pantheon-Sorbonne, com uma investigação sob o tema: «Pour un discours sensible – sur la capacité cognitive du corps dans l’expérience de l’art».
Trabalha como curadora e investigadora na área da Arte Contemporânea, colaborando actualmente com o CAM – FCG, Re.Al e Forum Dança. Foi colaboradora dos Serviços Educativos do Museu de Serralves e do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão - FCG. Pertence à Associação Internacional de Estética.
É autora de Ana Vieira – o que existe nos interstícios da figura? (Ed. Caminho) e coordenou a revista Marte n°3, sobre Performance. Escreveu para exposições e catálogos, publicou em revistas como “Sinais de Cena” e “Pangloss”. Deu conferências em Portugal, Turquia, Holanda, Eslovénia, Brasil e França. Membro da AICA. Colaborou na revista L+Arte.

Vera Mantero
Estudou dança clássica com Anna Mascolo e integrou o Ballet Gulbenkian entre 1984 e 1989. Começou a sua carreira coreográfica em 1987 e desde 1991 tem mostrado o seu trabalho por toda a Europa, Argentina, Brasil, Canadá, Coreia do Sul, EUA e Singapura.
Dos seus trabalhos destacam-se os solos “Talvez ela pudesse dançar primeiro e pensar depois” (1991), “Olympia” (1993) e “uma misteriosa Coisa, disse o e.e.cummings*” (1996), assim como as peças de grupo “Sob” (1993), “Para Enfastiadas e Profundas Tristezas” (1994), “Poesia e Selvajaria” (1998), “Até que Deus é destruído pelo extremo exercício da beleza” (2006) e a sua última criação “Vamos sentir falta de tudo aquilo de que não precisamos” (2009). Participa regularmente em projetos internacionais de improvisação ao lado de improvisadores e coreógrafos como Meg Stuart, Steve Paxton e Mark Tompkins. Desde o ano 2000 dedica-se igualmente ao trabalho de voz, cantando repertório de vários autores e co-criando projetos de música experimental.
Representou Portugal na 26ª Bienal de São Paulo 2004 com o trabalho “Comer o Coração”, criado em parceria com o escultor Rui Chafes.
No ano de 2002 foi-lhe atribuído o Prémio Almada (IPAE/Ministério da Cultura Português) e no ano 2009 o Prémio Gulbenkian Arte pela sua carreira como criadora e intérprete.