1.
O tema que hoje nos propormos explorar é o da "Tradução", interessa-nos abordar o tipo de problemas que se colocam neste processo criativo, qual o horizonte de expectativas investido no acto de recepção e retransmissão de algo que vem de "fora", de perceber como é que a transferência altera ou não, como se estabelecem equivalências de sentido...
Interessa-nos, o conceito de tradução, enquanto técnica e disciplina mas também num sentido mais amplo; a tradução enquanto tarefa mas também enquanto pensamento; a tradução num mundo alargado mas também em particular no universo artístico e, como é que a procura de uma linguagem actualizada e entrecruzada poderá ser reflectida numa criação que importa, inevitavelmente, outras tradições, linhagens, autorias.
2.
Entre outros textos de Walter Benjamin, Maria Filomena Molder traduziu “A Tarefa do Tradutor” de 1923, onde o autor diz : “Ora, tal como a tradução é uma forma própria, também a tarefa do tradutor, enquanto forma própria, só se pode compreender se for distinguida rigorosamente da tarefa do poeta”, mais à frente, Benjamim sublinha: “a tradução não se encontra, porém, como a poesia, por assim dizer, no próprio interior da floresta da língua, mas sim fora dela, frente a ela, e sem poder entrar nela, ela invoca o original para aquele lugar único, onde, de cada vez, o eco pode fazer ressoar uma obra de língua estrangeira na sua própria língua. Não só a sua intenção visa uma coisa diferente da intenção poética, nomeadamente uma língua na sua totalidade, a partir de uma obra de arte única numa língua estrangeira, como, enquanto tal, é completamente diferente: a intenção do poeta é ingénua, primeira, intuitiva, a do tradutor, derivada, última, idealizada”.
Se a tradução não é recepção, não é comunicação, não é imitação/reprodução.
Será a tradução uma forma redentora?
3.
Para contribuir para a estas e outras questões, as nossas convidadas de hoje:
Ana e Luisa Yokochi
que integram o projecto 100 Folhas, uma empresa de tradução com especial incidência na tradução de textos sobre arte ou artistas. Será curioso destacar das suas biografias que ambas são formadas na área das ciências (Biologia e Química) e em artes visuais (Ar.Co e Maumaus), respectivamente, mas ambas acabaram ligadas à tradução. Irão abordar as questões de transmissão de sentido e do estilo ou qualidade do original que está consciente, ou não, de que irá ser traduzido, e consequentemente, terá uma maior receptividade.
“Talvez por termos nascido numa família internacional (e viciada em livros), e apesar de não termos estudado na área das letras, traduzir sempre foi coisa que fizemos por instinto. Estudámos na área das ciências (Biologia e Química) e artes visuais (Ar.Co e Maumaus), mas acabámos ambas ligadas à tradução, uma actividade que começámos a exercer separadamente há cerca de 20 anos e que se transformou num projecto conjunto no ano 2002. Actualmente, o que mais nos motiva é trabalhar e crescer com a inteligente e versátil equipa plurinacional que tem vindo a juntar-se a nós. Além do contacto com uma enorme variedade de temas, gostamos do desafio de os traduzir.”
Maria Filomena Molder
Professora Catedrática de Filosofia na Universidade Nova de Lisboa.
Desde 1978, escreve sobre problemas de estética, enquanto problemas de conhecimento e de linguagem, para revistas de filosofia e de literatura, entre outras, Filosofia e Epistemologia, Prelo, Análise, Revista Ler, Sub-Rosa, A Phala, Internationale Zeitschrift für Philosophie, Philosophica, Revista Belém, Dedalus, Rue Descartes, Chroniques de Philosophie, La Part de l’Oeil. Desde 1984, escreve para catálogos, e outras publicações, sobre arte e artistas. Das suas obras principais destacamos O Pensamento Morfológico de Goethe, IN-CM,1995; Semear na Neve. Estudos sobre Walter Benjamin, Relógio d’Água, 1999. Prémio Pen-Club 2000 para Ensaio; Matérias Sensíveis, Relógio d’Água, 2000; A Imperfeição da Filosofia, Relógio d’Água, 2003; O Absoluto que pertence à Terra, Vendaval, 2005; Edição de Paisagens dos Confins. Fernando Gil, Vendaval, 2009; Símbolo, Analogia e Afinidade, Vendaval, 2009; Edição de Rue Descartes nº68, “Philosopher au Portugal Aujourd’hui”, 2010; O Químico e o Alquimista. Benjamin, Leitor de Baudelaire, Relógio d’Água, 2011.
Sem comentários:
Enviar um comentário